(demorou, mas ta ai! Espero que curtam este capítulo)
Capítulo IV
Assustada ao ver a expressão no rosto dele, as palavras pareciam não sair da minha boca.
- O que você pensou que ia acontecer? Que eu ia levar um fora e ficaria por isso mesmo? – enquanto ele falava vinha caminhando em minha direção e eu me arrastava para tentar manter distancia...
– Quem você pensa que é? Você me pertence até que eu diga o contrário! Eu tentei fazer você perceber que estava errada e que devia voltar pra mim, mas você é tão teimosa! – nesse momento, encostei-me à parede, não havia mais para onde me arrastar. Assim, ele puxou meu braço fazendo com que eu me levantasse.
- Eu não pertenço a ninguém! Faço da minha vida o que bem entender. Saia já... – nesse exato momento ele me deu um tapa na cara e me jogou no sofá.
- Calada. Não tente me dar ordens. Você vai aprender a lição – seu olhar era aterrorizante e o sorriso ao dizer isso fez com que eu me arrepiasse. Ele me bateu tanto que não sei bem quais os lugares, porque na hora em que ele parou doía tudo, não havia sequer uma parte do me corpo que não estivesse dolorida. Ao ver o estado em que me deixou, ele disse:
- Viu o que você me obriga a fazer? – eu apenas chorava encolhida no sofá – É tudo culpa sua! Se tivesse voltado pra mim você não estaria assim. Vá tomar um banho, pois você está nojenta. Ainda dá pra sentir o cheiro dele em você!
Ele me levantou do sofá e me levou ao banheiro.
- Tome um banho! Namorada minha não pode ficar neste estado. E quando eu vier amanhã espero que esteja aqui e bem arrumada. Eu virei a noite, depois do trabalho.
Assim, Rodolfo saiu do banheiro. Ouvi quando pegou suas chaves e a carteira e fechando a porta do meu apartamento que antes me parecia tão seguro. A única coisa que consegui pensar naquele momento foi em me olhar no espelho. Não parecia eu. Meu rosto todo inchado, um filete de sangue saindo da minha boca. Eu não havia percebido até aquele momento que fora o tapa, ele não bateu no meu rosto. Em compensação meus braços e minha barriga não tiveram a mesma sorte, estava tão roxo. Mas o que mais doía era a vergonha de não ter conseguido me defender. Em lágrimas, eu cai no chão do banheiro:
- O que... O que eu faço? – fiquei ali, no chão, até as lágrimas pararem de cair. Então do jeito que estava, eu me levantei, peguei minha bolsa e fui em direção a delegacia.
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Rodolfo chegou em casa satisfeito, mostrara a ela quem mandava. Nem uma mulher o deixava a não ser que fosse sua vontade. Os homens são superiores as mulheres e Rebeca precisaria entender isso nem que fosse da maneira mais dolorosa, pois afinal, quem escolhe a maneira mais dolorida sempre são elas. Se elas ouvisse e obedecessem as suas ordens isso não aconteceria.
- E amanhã você voltará a me amar, mesmo que seja a força – disse ele observando uma foto da mulher que acabara de espancar.
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Depois de relatar todo o ocorrido na delegacia, o que levou umas duas horas, me disseram que era melhor ir para a casa de algum amigo. Eu não podia envolver a Priscila, já que ela está praticamente as vésperas do seu casamento e eu não tinha a menor idéia do que o Rodolfo podia fazer a ela. Sendo assim, sai da delegacia e peguei um ônibus, não me lembro qual, mas quando desci e comecei a caminhar, percebi para onde estava indo inconscientemente. Eu avistei a fonte, tão bela quanto da primeira vez que a vi e me lembrei “Se você quiser me ver, eu moro no prédio ao lado da praça, no segundo andar, apartamento cinco. Mas você só vai me encontrar lá à noite. Boa noite e descanse”
Hesitei por um momento em falar com ele, mas não havia mais ninguém. Mesmo sendo tão tarde da noite, eu entrei no prédio.
- Senhorita, você está bem? – me perguntou o porteiro
- Mais ou menos. Por favor, pode avisar ao Afonso, do apartamento cinco, que a Rebeca precisa falar com ele.
- Eu sei quem é o senhor Afonso, senhorita, mas já está tarde...
- Se não fosse importante eu não teria vindo, senhor.
Com uma certa relutância o porteira ligou para o apartamento do Afonso, eles conversaram por alguns segundos:
- Pode subir, senhorita.
- Obrigada.
O prédio não tinha muitos andares, por isso não havia elevador. Tive de subir seis lances de escada para chegar ao segundo andar. Em cada andar havia três apartamentos. Um de cada lado do corredor e outro no fim. O do Afonso era o do fim do corredor. Frente à porta de seu apartamento eu hesitei – o que eu to fazendo? Eu mal o conheço. Virando-me para ir embora, ele segurou minha mão:
- O que aconteceu? Entra - já não podia mais ir embora e ao invés de entrar eu cai em prantos e o abracei. Pensei que ao invés de retribuir o abraço, Afonso fosse me mandar embora, mas não. Ele me abraçou. E naquele abraço reconfortante eu fui me acalmando. Quando o choro cessou, ele me levou pra dentro e sentou-se ao meu lado no sofá esperando que eu falasse quando me sentisse pronta. Alguns minutos se passaram até que eu pudesse explicar o que aconteceu.
- Quando cheguei em casa as luzes estavam acesas. Eu pensei que fosse um ladrão e peguei meu spray de pimenta. Mas era o Rodolfo. Ele começou a gritar comigo e então me bateu tanto que em determinado momento eu parei de tentar me defender. O pior é que eu não gritei, a voz não saia e por isso ninguém no prédio pode me ajudar.
Ele não esboçou nenhuma reação até que eu terminasse de falar.
- O que você fez depois? – perguntou ao envolver minhas mãos na suas. Eu não conseguia parar de tremer.
- Ele me levou ao banheiro. Disse que eu estava nojenta, porque ele ainda sentia seu cheiro em mim, e foi embora. - nesse momento vi ódio em seus olhos - Depois de chorar muito fui à delegacia e prestei queixa e fiz um exame de corpo delito. Não sei como vim parar aqui. Eu não podia, não posso ir pra casa! Ele pode estar lá me esperando – novamente lágrimas.
Afonso me abraçou, acalentando-me novamente. Seu corpo era tão frio, mas seu abraço era ainda assim caloroso. Acomodei minha cabeça em seu peito. Seu coração batia tão lentamente...
- O que eu devo fazer? Amanhã eu tenho de trabalhar. Eu não tenho nem onde dormir.
- Você pode ficar aqui. Tenho um quarto para visitas. Quanto a você ir trabalhar, eu duvido que ele vá até lá. Se ele nos viu hoje à noite e esperou até que você chegasse em casa é porque queria pega-la sozinha – eu levantei a cabeça e o encarei.
- Afonso, isso não foi nem um pouco reconfortante! – ele riu
- Desculpe, Rebeca. Às vezes não tenho jeito com as palavras. Mas isso não importa. Agora você precisa de um banho. Eu devo ter algo que sirva em você. Venha.
Ele se levantou e segurando minha mão me conduziu até o quarto de visitas. Abriu o guarda- roupa e tirou de lá uma calça jeans e uma camisa azul.
- Acho que serve, não? – ele parecia preocupado em me agradar.
- Sim. Acho que sim.
- Bom, o banheiro é ao lado desse quarto, alias, fica entre os dois quartos. Vou pegar uma toalha pra você.
Afonso saiu em busca da toalha e eu fiquei parada observando o quarto. Era simples, sem janelas, com uma cama, um guarda-roupa e um criado mudo ao lado da cama. Era o suficiente, pelo menos naquele momento. Ele voltou com a toalha e me encontrou sentada na cama.
- Aqui está.
- Obrigada e me desculpe. – disse eu cabisbaixo.
- Desculpá-la pelo que?
- Eu mal o conheci e estou causando incomodo. Nós só tivemos um encontro.
- Eu pretendo ter outros. Logicamente se você quiser. – levantei a cabeça e o olhei surpresa.
- Quer sair comigo de novo? Mas e se o Rodolfo vier atrás de você.
- Ai ele terá uma grande problema!
- Como assim? – perguntei desconfiada.
- Não se preocupe, eu sei me cuidar. Agora vá tomar um banho. Você precisa descansar.
- E você?
- Eu vou esperar você sair do banho para tomarmos uma xícara de chá.
Saindo do banheiro vi que ele estava na cozinha preparando o chá. Fiquei observando-o.
- Ei, não sabe que ficar bisbilhotando é feio? – disse ele sem se virar.
- Como sabia que eu estava aqui?- perguntei surpresa, pois não havia feito barulho ao sair do banheiro.
- Senti o cheiro do sabonete.
- Você tem um bom olfato! – Ele se virou e sorriu:
- Isso e muitas outras coisa!
Tomamos o chá assistindo TV. Ninguém disse uma palavra. Eu não queria mais conversar. Quando acabamos o chá, o silêncio foi quebrado.
- É melhor irmos dormir. – apenas assenti com a cabeça. Ele levou as xícaras para cozinhar e me beijando no rosto me desejou boa noite.
Cada um se dirigiu para seu quarto. Eu pensei que quando deitasse iria dormir na hora, mas isso não aconteceu. Rolei durante minutos tentando encontrar uma posição em que meu corpo não doesse. Quando consegui e fechei meus olhos o rosto do Rodolfo apareceu. Apavorei-me e gritei. Segundos depois Afonso estava abrindo a porta do quarto.
- O que foi?
Chorando eu respondi:
- Até quando fecho meus olhos vejo o rosto dele. Assim não consigo dormir. Sinto-me tão insegura.
Ele fechou a porta do quarto, veio em direção a cama.
- Deite – ele pediu e eu obedeci. Deitando-se ao meu lado ele puxou o coberto e me abraçou.
- Enquanto eu estiver aqui, ou ao menos estiver pensando em você, nada lhe acontecerá. – disse no meu ouvido.
Adormeci envolvida pelo estranho homem que havia de hora para outra, de forma misteriosa, conquistado meu coração em apenas um dia.
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Ao abraçá-la, Afonso sentiu o perfume que emanava de seu corpo. Tão doce o cheiro de sangue e tão suave o pulsar de seu coração. O pescoço dela estava tão perto de sua boca. O sim, ele poderia mordê-la naquele exato momento e acabar com todo o sofrimento, dor e tristeza que havia em seu coração, mas ele não o fez. Pelo contrário ele guardou o doloroso sono da humana que agora parecia trazê-lo de volta a vida até o nascer do sol.