8 de setembro de 2010

A PRAÇA

Capítulo III

No táxi, eu sentia os olhares do motorista que me observava pelo retrovisor. Um sorriso brotou em meu rosto, afinal minha produção parecia ter surtido efeito. Aquele friozinho na barriga estava me incomodando...
-         Afinal, por que estou ansiosa assim? Por que é que eu resolvi vir? – nesse momento todos os argumentos que me tinham vindo a cabeça anterior para comparecer a esse encontro com um cara que eu nem conheço haviam sumido.
-         O que disse senhorita? – perguntou o motorista olhando-me pelo retrovisor.
-         Oh! Nada acho que pensei em voz alta.
Minutos depois ele parou o carro na entrada da pracinha.
-         É aqui mesmo que vai descer, senhorita?
-         Sim, obrigada. Pode ficar com o troco – lhe entreguei uma nota de cinqüenta. O cara me convida pra sair e eu que gasto!
v      

Afonso da janela de seu apartamento viu quando Rebeca desceu do táxi e optou por observá-la por alguns instantes dali onde estava. Ela estava muito mais bonita que no outro dia, mas ainda conseguia sentir a tristeza que vinha da moça, algo profundo e perturbador.
-         Não vou fazê-la esperar – disse Afonso virando-se e caminhando em direção a porta.

v        
      -Olá, Rebeca.
Dei um pulo do banco em que estava sentada.
-         Nossa, você gosta de aparecer do nada.
-         Desculpe, a intenção não era lhe assustar – quando ele disse isso em estava mergulhada em sua beleza.
-         Ah!? Tá desculpada, mas só porque você tá lindo nessa roupa.
-         Já não te falei sobre aparência e caráter.
-         Sim, mas você sabe tão bem quanto eu que aparência também conta.
-         Lógico que sim, a propósito você está deslumbrante – uau, ele estava me olhando com um sorriso malicioso tão lindo.
-         Obrigada. Nós vamos ficar aqui na nessa pracinha mesmo ou você pretende me levar a algum outro lugar – perguntei lhe retribuindo o sorriso.
-         Você consegue andar alguns quarteirões com essa sandália?
-         Confesso que não estou acostumada, mas acho que sim.
Ele me ofereceu seu braço como apoio e lógico que pensei em recusar, mas não deu algo nele não permitia que eu lhe dissesse não. Caminhamos algumas quadras conversando sobre a noite, a lua, as estrelas. Contamos até algumas piadas.
-         É aqui – Afonso apontava para um pequeno restaurante um pouco rústico a primeira vista.
-         Nossa. Que lugar bonitinho. Nunca havia visto esse restaurante – acho que não minto muito bem, pois ele estava rindo.
-         É pouco freqüentado, mas você vai gostar da comida.
Atravessamos a rua e entramos no restaurante. Um garçom nos conduziu até uma mesa próxima a janela, Afonso puxou a cadeira para que eu senta-se. “Se ele continuar assim tão cavalheiro, eu vou acabar me apaixonando. Será que seria ruim?”
-         Algo errado? – perguntou ele sentando-se a minha frente.
-         Não. Por que a pergunta?
-         Você estava fazendo careta – senti o sangue enrubescer meu rosto.
-         Só estava pensando – ele sorriu, chamou o garçom e pediu um vinho.
-         Você bebe vinho, não é?
-         Sim.
Ficamos em silêncio um observando o outro. Ele sorria enquanto me olhava. “O que será que o faz sorrir assim?”. O garçom chegou com a garrafa de vinho e nos serviu. Quando peguei a taça e levei a boca para sorver o primeiro gole foi quando o silêncio foi rompido.
-         Vai me contar por que estava chorando ontem?
-         Não.
-         Então falemos sobre outra coisa. Com o que você trabalha? – que bom que ele não insistiu.
Conversamos durante todo o jantar. Nem sei quanto tempo se passou. Estava tudo tão agradável. Mas o vinho entrou e tinha que sair, então pedi licença e fui ao banheiro. Quando voltei, ele havia pedido a sobremesa para mim e para ele um café.
-         Como sabia o que eu ia pedir? – perguntei surpresa por ele ter acertado a sobremesa que eu havia escolhido assim que bati o olho no cardápio. Eu não havia dito a ele.
-         Acho que sou sortudo – respondeu ele sorrindo.
Nesse momento algo do lado de fora do restaurante me chamou a atenção. Lá fora um homem nos observava, escondido a sombra de um poste.
-         Você reparou que aquele homem está nos observando? – rapidamente Afonso olhou pela janela para o lado de fora.
-         Deve ser impressão sua – nesse exato momento o homem começou a andar sem olhar para trás.
-         Viu? Ele já foi – ainda confusa, concordei balançando a cabeça.
Conversamos mais um pouco enquanto eu saboreava a sobremesa, mas ele nem tocou no café. Quando acabei, ele pagou a conta e sugeriu que fossemos andar um pouco mais. Saímos do restaurante e caminhamos em direção a praça em silêncio. Na metade do caminho, Afonso parou e pegando meu rosto em suas mãos fez com que eu o olhasse nos olhos:
-         O que houve, Rebeca? Algo não lhe agradou ou é por causa do homem que você viu?
-         Ele se parece muito com alguém que conheço – respondi com uma voz triste.
-         E isso é ruim?
-         Digamos que eu não quero ver essa pessoa nunca mais.
-         Era por causa dele que chorava ontem? – perguntou ele parecendo preocupado.
-         Por favor, não quero falar nisso... – não agüentei e comecei a chorar. Ele me abraçou. Seu corpo era frio, o abraço aconchegante. Ficamos assim até que minhas lágrimas parassem de escorrer pelo meu rosto.
-         É melhor eu ir pra casa – disse eu já mais calma.
-         Quer que eu a acompanhe? – ele parecia tão preocupado.
-         Não precisa. É que está tarde e amanhã eu trabalho.
-         Vai embora como?
-         Tem um ponto de táxi na próxima esquina.
-         Então vou te acompanhar até lá.
Ele passou seu braço pela minha cintura aproximando mais nossos corpos. Não recusei, ele me fazia sentir segura. No ponto de táxi ele abriu a porta do carro e deu dinheiro ao taxista.
-         Acho que um dia não é suficiente para prova-lhe que nem todos os homens são iguais. Então, que tal nos encontrarmos de novo?
-         Eu não sei se...
-         Se você quiser me ver, eu moro no prédio ao lado da praça, no segundo andar apartamento cinco. Mas você só vai me encontrar lá a noite. Boa noite e descanse – ele me beijou no rosto e esperou que eu me sentasse para fechar a porta do carro. Fiquei olhando do vidro traseiro até que o carro virasse na próxima rua.
v       

Afonso foi para seu apartamento. Embora não tivesse se alimentado não sentia fome, só conseguia sentir a tristeza que viu nos olhos de Rebeca. Ficou mais uma vez ali no sofá, deitado com olhos fechados vendo o rosto de Rebeca, mas agora com lembranças que levaria consigo pelo resto da eternidade. Aquele pedaço da noite que passara com ela fora maravilhoso.
-         Ela faz com que eu me sinta humano de novo. O que essa mulher tem de especial?

v       

Desci do táxi e agradeci o motorista. Subi para o meu apartamento. Quando cheguei havia algo estranho. As luzes estavam acessas, mas a porta fechada. Com medo tirei um spray de pimenta da bolsa e abri a porta. Antes tivesse dado de cara com um ladrão. Teria sido melhor. Mas ao invés disso quem arrancou o spray da minha mão, me atirou ao chão e trancou a porta foi o Rodolfo. Ele transpirava e parecia enfurecido.
-         Como foi seu encontro? Você se divertiu? – seu olhar era assustador.

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