8 de setembro de 2010

A PRAÇA

Capítulo II

Cheguei no meu apartamento exausta, não pela caminhada, mas pelos acontecimentos, ou melhor, pela descoberta da traição. Não dei tanta importância para aquele cara, o mais provável é que ele seja do tipo de cara que gosta de garotas que parecem indefesas e inseguras e eu me sinto assim nesse momento.
-         Preciso de um banho.
Tirei a roupa e me olhei no espelho:
-         Caramba... não sou feia – observando as curvas do meu corpo bem desenhado, modéstia a parte, meus cabelos de um preto brilhante e meus olhos de um castanho feito mel.
Depois do banho decidi comer alguma coisa, pois saco vazio não para em pé. Preparei um sanduiche e um suco. Após encher meu estomago resolvi fazer algo que não era tão agradável. Peguei uma caixa de papelão e nela coloquei todos os presentes, fotos, todas as lembranças daquele crápula e joguei-as na caçamba que ficava na esquina da rua onde moro. Quando voltei pro apartamento a luzinha da secretária eletrônica piscava avisando que haviam mensagens. Apertei, um pouco resoluta, o botão para ouvi-las:
-Rebeca, é a Priscila. Como você tá? Eu vi a bronca que você levou lá na loja. Me liga pra gente conversar. Beijos.
A segunda mensagem me irritou:
-         Re!? Atende eu sei que você está ai! Eu não sei o que me deu. A carne é fraca. Foi um erro. Quero te ver. É você que eu amo não ela. Tchau.
-         Essa é boa. “a carne é fraca”. Ai que ódio. Imbecil – dizendo isso cai sobre o sofá em prantos e assim adormeci.
Acordei com a luz do sol que atravessava a janela pegando direto no meu rosto. Levantei, tomei um banho e um belo café da manhã, porque não adianta, mulher brava sempre tem fome. Hora de ir pro trabalho. Foi um namoro que acabou não minha vida e ainda era quinta-feira.
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O rosto de Rebeca ficou na mente de Afonso. Ele ainda conseguia sentir o doce perfume que vinha dos cabelos da moça e mais que isso, sentia sua tristeza e sua solidão. Sentimentos esses que jamais pensou que um humano poderia ter. Usá-la seria certo? Sim, parece que ainda tenho consciência.
-         Conhecê-la é só o que vou fazer.
Afonso viu os primeiros raios de sol, então foi para seu quarto. Já estava na hora de dormir, se conseguisse, pois os sentimentos que vinham dela eram muito fortes nele. Odiava essa poder. Não eram todos que tinham, isso o tornava especial, mas era algo que o tornava mais humano o que nem sempre ajudava na hora de se alimentar. Deitou-se e fechou os olhos adormecendo vendo o rosto de Rebeca.

v      

-         Oi, Re. Nossa! Que carinha é essa menina? Não diga que é por causa da bronca que você levou do chefe ontem?
Quando eu ia responder as perguntas da minha amiga, a gerente chegou com aquele bom humor de sempre:
-         Ei, ao trabalho, certo pessoal?
-         Sim, Gisele – disse a Priscila prevendo que eu pretendia voar no pescoço daquele ser.
-         Depois a gente conversa amiga – Priscila piscou e foi atender a primeira cliente do dia.

v      

-         Ai, finalmente hora do almoço. Ainda bem que nós conseguimos sair pra almoçar ao mesmo tempo. Amiga, o que você tem? Você é sempre tão sorridente e vende mais que todo mundo e hoje não tá sendo assim – ela me olhava com aquela expressão de interrogação no rosto – o que eu podia fazer?-contei tudo que aconteceu na noite passada, mas não da praça com a fonte e nem do tal Afonso.
-         Não brinca? Por que você não me ligou?
-         Queria ficar um pouco sozinha. Pra pensar, sabe?
-         O que você fez com as coisas dele que estavam no seu apartamento?
-         Ué, joguei na caçamba perto do meu apartamento. Chega de falar de mim. Como vão os preparativos do seu casamento? – foi nessa hora que a Pri fez uma cara de assustada, me virei para ver o que a assustou, eu não devia ter me virado.
-         Olá, Rebeca.
-         É muita cara de pau sua aparecer aqui.
-         Rebeca, eu só quero conversar. Você não retornou minha ligação... – nisso a Pri já tinha se levantado e ido ao banheiro bem de fininho, a ela ia me pagar, mas primeiro eu ia matar o Rodolfo.
-         Por que será?!
-         Rebe...
-         Calado, eu não quero ouvir. Acabou. Você não vale a pena. Não quero te ver nunca mais.
-         Mas foi ela que me seduziu...
-         Ah claro, a carne é fraca!
-         É isso!!
-         Vai se ferrar, eu não tenho mais nada pra falar com você – Me levantei e fui buscar a Priscila no banheiro.
-         Que bela amiga você em? Me deixou lá com ele.
-         Vocês tinham que conversar.
-         Eu te disse que não tinha mais nada pra falar com ele. Você não ouviu tudo que te contei... – não agüentei, comecei a chorar.
-         Desculpa, amiga. Não chora vai. Ele não merece nem suas lágrimas. Vamos, é melhor a gente ir.

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Logo após o por do sol, Afonso acordou. Precisava se arrumar para seu encontro.
-         Doce Rebeca. Não vejo a hora de te reencontrar.
Arrumou seus cabelos cor de caramelo, vestiu uma camisa branca, uma calça preta e um casaco de couro. Ansioso, parou em frente à janela e ficou observando a praça.
-         Não me faça esperar tanto. Estou tão ansioso para revê-la.

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Sai do trabalho no horário habitual, às 18 horas. Peguei o metrô sozinha. Geralmente a Priscila está comigo já que moramos bem perto uma da outra, mas ela tinha que ir ver algumas coisas para seu casamento. Chegando ao meu apartamento me esparramei no sofá e liguei a TV. Fui mudando de canal pra ver se achava algo interessante e foi quando em um deles eu vi uma praça.
-         Droga, esqueci do encontro.
Na verdade eu não tinha decidido até aquele momento se eu iria ou não, mas a lembrança da discussão com o Rodolfo durante o almoço me fez decidir. Tomei um banho, coloquei o vestido mais justo que eu tinha – enquanto tomava banho decidir extravagar e caprichar no meu look – me maquiei, passei um belo batom vermelho e calcei sandálias se salto alto. Olhei satisfeita para o espelho.
-         Quem perdeu foi você, Rodolfo.

v        

Do lado de fora do prédio onde Rebeca mora, Rodolfo esperava no carro. Quando ela apareceu na porta do prédio sua surpresa foi grande:
-         Nossa, onde ela pensa que vai toda arrumada desse jeito?
Observou-a entrar no táxi, ligou o motor do carro e começou a segui - lá.

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